O Instituto Terra Viva Brasil de Agroecologia, uma
Organização Não-Governamental (ONG) criada no ano passado, realiza o
levantamento e articulação da agricultura orgânica e familiar na região de
Sorocaba de maneira a formar uma rede para fornecimento de produtos no varejo.
Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o mercado de orgânicos
cresce de 15% a 20% ao ano no Brasil e em 2012 movimentou cerca de R$ 500
milhões, sendo que 85% da produção vem de agricultores familiares.
O presidente do instituto, Pedro Kawamura
Gonçalves, cita Araçoiaba da Serra, Ibiúna, Itapetininga, Iperó e Piedade como
principais municípios agrícolas na região de Sorocaba. Da Feira Experimental de
Transição Agroecológica e Orgânica de Sorocaba, realizada aos sábados de manhã
no Parque Municipal Chico Mendes, por enquanto participam sete produtores. A
intenção é ampliar esse número e também criar outros espaços para a
comercialização dos produtos, segundo Kawamura, que é biólogo com mestrado em
agroecologia e desenvolvimento rural.
A feira surgiu de iniciativa da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente (Sema) em parceria com o Grupo de Articulação
Regional da Feira Agroecológica de Sorocaba (Garfos). Os legumes, frutas e
verduras são cultivados sem defensivos e fertilizantes químicos. De acordo com
Kawamura, nos grandes centros urbanos a procura por produtos orgânicos é maior.
A preferência ganha cada vez mais adeptos por propiciar uma alimentação mais
natural, portanto saudável e que não afeta o meio ambiente.
O produto orgânico em quitandas e supermercados tem
preço geralmente maior que o convencional. O preço chega a ser quatro ou cinco
vezes maior que o pago ao produtor. O presidente do Instituto Terra Viva dá o
exemplo do tomate orgânico produzido em Ibiúna, que sai da propriedade rural a
R$ 4,50 o quilo e é vendido em supermercados da Grande São Paulo por até R$ 16.
A agricultura orgânica já existe tradicionalmente.
Não são todos os produtores rurais, principalmente os pequenos, que utilizam
defensivos e fertilizantes químicos, principalmente por causa do custo. O
crescimento do mercado de produtos orgânicos, com lojas e quitandas
especializadas, deve valorizar o trabalho de agricultores familiares. Segundo
Kawamura, essa mudança faz parte do processo de transição agroecológica, que já
ocorre em outros países.
A participação na feira agroecológica não é
obrigatória para ingressar na rede de agricultores familiares e orgânicos,
explica o presidente do instituto. Ele diz que há produtores rurais na região
que negociam diretamente com distribuidores ou supermercados. "Parte dos
produtos orgânicos vendidos em São Paulo são produzidos em municípios da
região, como Ibiúna e Piedade." Na região de Sorocaba, o instituto tem
apoio do Núcleo de Agroecologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar),
câmpus Sorocaba; da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp)
e da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Iniciativa
Verde. O site do Instituto Terra Viva é www.institutoterraviva.org.
Verduras e frutas
O agricultor José dos Reis Boaventura produz
verduras e frutas no assentamento de Ipanema, em Iperó. Ele faz parte da
Cooperativa de Produção Agropecuária de Agricultura Familiar São Jorge, que
reúne 15 famílias. Os lotes de terra estão regularizados desde 1997. Boaventura
participa da Feira Agroecológica no Parque Chico Mendes e da feira noturna, às
quartas-feiras, na Ceagesp de Sorocaba. Também vende verduras para clientes em
bairros da zona norte e de outros pontos de Sorocaba.
Alface, rúcula, almeirão, cebolinha, salsinha e
coentro saem do sítio de Boaventura. Faz questão de informar os compradores que
cultiva as hortaliças com adubação orgânica. O agricultor plantou um pomar de
espécies variadas e cujas árvores estão começando a produzir. Há pés de limão,
mexerica, goiaba, lichia e jabuticaba. O composto orgânico que utiliza vem de
Ibiúna, mas Boaventura pretende fazer a compostagem no sítio, com minhocas e
esterco dos porcos. A minhoca pode ainda ser vendida como isca para pesca ou
ser usada como suplemento alimentar de animais, principalmente cavalos.
O combate às pragas é feito de modo natural,
segundo o agricultor. Ele enfrenta problema com as formigas, que atacam as
folhas das verduras. Para isso, espalha na horta pães embebidos em vinagre, o
que dá resultado. O plantio de gergelim também tem o efeito de reduzir as
formigas. São práticas tradicionais, de conhecimento popular, de acordo com o
presidente do Instituto Terra Viva.
Boaventura diz que as verduras que produz são
vendidas ao preço normal de mercado, entre R$ 1,50 e R$ 2. Além dele, trabalham
no sítio a esposa, o filho e a enteada. Boaventura conta que é natural de
Juruá, Minas Gerais, onde trabalhou na agricultura. Depois se mudou para
Goianésia, Goiás, com a família. Trabalhou como boia-fria e entre 1988 e 1991 e
cursou o seminário em Aparecida. Entrou para o Movimento dos Trabalhadores
Sem-Terra (MST) e no assentamento do bairro Bacaetava, em Iperó, junto com
outros agricultores, iniciou uma horta orgânica, na década de 90.
Marcelo Roma
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